sexta-feira, 9 de abril de 2010

Acirra a briga entre prefeitura e trabalhadores da construção naval


     Alegando estar com a razão, a prefeitura, após receber convênio do Governo do Estado,  iniciou as obras de construção do cais de arrimo e pavimentação asfáltica no trecho da rua 24 de dezembro que inicia na fábrica de gelo e vai até o final da rua, ou seja, aproximadamente trezentos metros. Na área funcionam há setenta anos os estaleiros, oficinas, marcenarias, tornearias mecânicas, pinturas e calafetagens de barcos e as carreirras da construção naval.

   Esse imbrólio começou ainda no segundo mandato do prefeito Luiz Gonzaga que prometeu aos trabalhadores que construiria um outro lugar para deslocá-los com segurança, comodidade mas os trabalhadores dizem que não passou de uma mera promessa.
   Para o marceneiro Juvenal  Siqueira que trabalha na área há mais de seis anos, a atitude da prefeitura é desrespeitosa e não demonstra nenhuma preocupação com os prejuízos que vão ter as pessoas para que dependem da construção naval.  “Aqui há geração empregos para mais de cinqüenta famílias e hoje estão sendo afetadas por essa ação impensada da prefeitura”, diz.  O marceneiro lembra que a carreira em que trabalha foi uma das primeiras a ser construída e que está preocupado com o que poderá  acontecer com eles por que terão que paralisar seus trabalhos nos próximos dias e não sabem quando vão reiniciá-los. O trabalhador frisa que a pavimentação não afetará o funcionamento de marcenaria, mas também não poderá usar a carreira que é utilizada para puxar a madeira, haja vista que será construído o cais de arrimo, mas faz uma ressalva, os calafates que puxam barcos e precisam das carreiras, estes sim, serão diretamente afetados.
   O motivo da revolta de todos os trabalhadores navais está relacionado ao descaso com que estão sendo tratados pela prefeitura e o calafate Valdomiro Pinheiro de Souza que trabalha há trinta anos na área, diz que não é contra a pavimentação asfáltica do trecho em questão e nem da construção dos cais, mas diz que estão se sentindo afrontados pela prefeitura que não enviou ninguém para conversar com eles. “Não sou contra a conclusão da 24, mas o prefeito não veio conversar com a gente. Apenas o secretário da infra estrutura Alfeu Carpeggiani que veio ordenar para que saíssemos daqui”, enfatiza.  Segundo o trabalhador a prefeitura está tirando deles a dignidade, o direito dos trabalhadores de sustentar suas famílias.
   Outro trabalhador da área o torneiro mecânico Manoel Ribeiro de Souza, o ratinho, que atua há mais de quarenta anos diz que juntamente com ele sofrerão com a paralisação mais cinco funcionários seus. “A prefeitura não enviou ninguém para conversar conosco, apenas um rapaz veio para cortar os meus trilhos, mas eu não permiti”, disse ratinho.
O líder dos trabalhadores navais, o torneiro mecânico Rubens Seixas (na foto ao centro de boné em conversa com o grupo de vereadores) e  que também tem oficina e tornearia na área que emprega sete pessoas, diz que a obra é prejudicial por que passa em frente aos estaleiros e os exclui, ou seja, não há preocupação em relação a situação deles. “Toda obra quando vai ser iniciada, primeiro se faz um levantamento antecipado sobre as causas e conseqüências que ela vai trazer para as pessoas que residem ou que trabalham nela e que no nosso caso, está ligado diretamente ao rio trombetas por que temos carreiras para puxar barcos”, diz Rubão.
   O torneiro mecânico diz que em 2003, ou seja, no segundo mandato do prefeito Luiz Gonzaga quando se iniciou a obra já não houve preocupação com os trabalhadores navais, a prefeitura mandou que eles desmontassem parte dessas carreiras para fazer o alicerce do cais de arrimo que viria no futuro. Rubão diz ainda que obedeceram o pedido, mas ficaram surpresos por que o cais ultrapassou o limite, ou seja, da forma foi construído o alicerce impedia que as carreiras pudessem ser utilizadas. “Naquela ocasião o prefeito nos disse que houve sim uma precipitação com o responsável pela obra, mas que os trabalhadores ficassem despreocupados que um outro local seria encontrado para que eles pudessem trabalhar. A obra prometida por Gonzaga foi feita de forma errada, ou seja, as carreiras construídas na Barreirinha, estavam todas fora do rio e nem fizeram barracões,  explica Rubão.  “Eles demonstraram total falta de conhecimento no assunto”.  Rubens diz que partindo dessa sucessão de erros causados pela prefeitura, todos decidiram não sair mais do local onde trabalham até hoje, e que foram taxados na época por Gonzaga de  serem contra o progresso de Oriximiná, mas que ainda conversaram com o prefeito Gonzaga que prometeu que resolveria o problema, o que de novo não aconteceu.
   A atual situação é bem pior do ano de 2003, diz Rubão, por que desta vez, não houve conversa nenhuma, apenas ação desrespeitosa da prefeitura que finge que os trabalhadores navais não existem. Sobre o Termo de Compromisso que foi assinado pelo engenheiro da obra Augusto Cezar Barbosa da Silva e pelo secretário de infra estrutura Alfeu Santo Carpegianni, no dia 29 de dezembro de 2003 e que foi registrado em cartório, Rubão diz que o secretário de infra estrutura tomou a iniciativa de assiná-lo por que o prefeito não se encontrava na cidade, mas esse termo não foi em nenhum momento respeitado, por que nele havia definida a data de entrega da obra, o que de novo não aconteceu, garante o trabalhador. Sobre as providências que a categoria deverá tomar, Rubão diz que vai até o final em busca de reconhecimento e respeito como trabalhador oriximinaense.
   O secretário de Infra estretura Alfeu Carpeggiani,  diz que no segundo mandato de Gonzaga sempre se reuniu com a ‘turma’ se referindo desta forma aos trabalhadores navais onde se comprometiam com todos eles, mas sempre que a prefeitura retornava ao local, o que havia sido acertado de manhã, à tarde já não era mais levado em conta por eles, diz o secretário. “A obra está dando toda essa polêmica por culpa deles que são chefiados pelo Rubão, que só quer polemizar e complicar e vida de todos esses que trabalham lá”, diz Carpeggiani. Sobre o reinício da obra, o secretário afirma que foi lá sim em companhia dos engenheiros  Mauro Jorge e Francisco Miléo e comunicou á todos sobre o reinício, mas quando o Rubão chegou de viagem começou a polêmica novamente. Segundo ele, essas pessoas não querem o bem da cidade, querem sim dinheiro e garante que isso a prefeitura não vai dar. “Nenhuma oficina vai parar, apenas as carreiras que já não poderão ser utilizadas no período de quatro meses e que no momento o rio já está cheio e puxar barcos na rua, nós não vamos permitir”, garante, e que também não haverá reunião com ninguém por que a recomendação do prefeito é até procurar justiça, que não será aceito nenhuma chantagem e a obra vai acontecer.
   Questionado sobre o termo de compromisso que ele assinou em 2003, o secretário disse que já tem mais valor e que foi assinado numa outra gestão de Gonzaga como também é referente a obra do outro cais e quem não cumpriu foram os trabalhadores. “Não podemos indenizar ninguém, se estão na rua pública, numa obra pública, com o vamos justificar isso se as oficinas continuarão funcionando?”, finaliza Carpeggiani.
As obras já começaram e os trabalhadores tem 15 dias para paralisarem os trabalhos que realizam no meio da rua.

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